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Pé de Chinesa: atriz da Globo gera polêmica ao falar de racismo e opressão de gênero dentro do enredo da novela; entenda

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A novela fake, intitulada “Pé de Chinesa”, continua movimentando as redes sociais desde que surgiu como um meme no último mês. A paródia envolveu diversos internautas e até celebridades, como a atriz Jade Picon, que apareceu como a fictícia Xu Lee. No entanto, além do humor, a brincadeira trouxe à tona discussões sérias sobre racismo e estereótipos.

A história fictícia narra a vida de uma jovem criada na China e que se muda para São Paulo após a morte da avó. Criada coletivamente por usuários do X (antigo Twitter), a trama ganhou vida através de imagens geradas por inteligência artificial e vídeos de abertura e encerramento. Toda essa movimentação, porém, não deixou todos satisfeitos. Artistas de ascendência asiática denunciaram o racismo presente nas postagens.

Por que a Novela ‘Pé de Chinesa’ é Problemática?

O meme viral gerou uma série de estereótipos sobre pessoas asiáticas, suscitando reações na comunidade artística. A atriz da TV Globo, Ana Hikari, junto com outros artistas, condenou o tom racista das postagens associadas à “Pé de Chinesa”. Em suas redes sociais, Ana explicou de maneira didática por que a piada não é apenas inofensiva, mas também ofensiva e prejudicial.

O termo “preconceito amarelo” refere-se à discriminação contra pessoas nascidas ou com ascendência de países asiáticos. Em uma carta assinada por celebridades como Ana Hikari, Bruna Aiiso e Jacqueline Sato, os artistas descreveram como se sentiram ao ver a falsa novela ganhar tanta popularidade, embora com um conteúdo tão ofensivo.

O Que é Racismo Recreativo?

A novela “Pé de Chinesa” é um exemplo claro de racismo recreativo, um conceito desenvolvido por Adilson Moreira, pós-doutor em Direito. Esse tipo de racismo utiliza o humor como uma forma de disfarçar ofensas raciais. Em seu livro, Moreira explica que essas ações são frequentemente justificadas como meras brincadeiras, mas têm um impacto profundo e negativo nas comunidades afetadas.

Como o Título ‘Pé de Chinesa’ é Racista?

O próprio título da novela, “Pé de Chinesa”, é uma alusão ao “Pé de Lótus” ou “Lianzu”, uma prática dolorosa e opressiva que existiu na China durante a Dinastia Song. Essa tradição envolvia enfaixar os pés das meninas para quebrar os ossos e moldá-los em um formato considerado “bonito”. Ao usar este termo, a falsa novela trivializa um passado de grande sofrimento para muitas mulheres chinesas.

Estereótipos e Yellowface

  • Postagens e vídeos usaram estereótipos visuais e linguísticos, inclusive termos como “pastel de flango” e “ling ling”.
  • Celebridades que participaram da piada adotaram nomes fictícios com fonéticas estereotipadamente chinesas, como Xu Lee e Tia Ping.
  • Papéis fictícios de personagens em profissões estereotipadas, como vendedores de pastéis e donos de academias de kung fu.

Pé de Chinesa: Por Que Precisamos Discutir Isso?

Não é a primeira vez que práticas racistas, disfarçadas de humor, ganham popularidade. A pesquisadora Marcia Yumi Takeuchi documentou como charges e caricaturas históricas perpetuaram estereótipos sobre japoneses e chineses no Brasil. Essas representações negativas continuam a influenciar o imaginário social e alimentar a discriminação.

De acordo com Maria Luiza Tucci Carneiro, manifestações racistas se fortalecem através da repetição de ideias distorcidas que se tornam parte do inconsciente coletivo. Quando essas representações são disseminadas de maneira recreativa, tornam-se mais difíceis de combater, pois são vista como “inofensivas”.

Práticas Moderna e Passada na TV Brasileira

Embora a novela “Pé de Chinesa” seja fictícia, ela traz à tona debates antigos sobre representações raciais na TV brasileira. Produções anteriores como “Negócios da China” e “Sol Nascente” enfrentaram críticas por práticas de yellowface. Recentemente, a TV Globo tem se esforçado para escalar atores que representem de maneira autêntica suas etnias, como vimos em casos mais recentes.

  • A novela “Sol Nascente” enfrentou críticas por escalar atores não-asiáticos em papéis asiáticos.
  • A série “Caminhos das Índias” estereotipava pessoas de ascendência indiana.
  • O canal Viva cortou cenas de blackface na reprise de uma antiga temporada de Malhação.

Reflexão e Ação

Se após todas essas explicações você ainda achar a piada engraçada, vale a pena lembrar: essa não é apenas uma brincadeira. O racismo recreativo perpetua estereótipos e prejudica comunidades inteiras. É fundamental que continuemos a refletir sobre nossas ações e os impactos que elas têm. Afinal, como sociedade, devemos promover o respeito e a inclusão de todas as culturas e raças.

O texto foi assinado por Tati Takiyama, Ana Hikari, Bruna Tukamoto, Bruna Aiiso, Jacqueline Sato, Aya Matsusaki, Anna Akisue, Claudia Okuno e Carlos Chen, todos comprometidos em conscientizar e combater o racismo em todas as suas formas.