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Segundo estudo brasileiro, jejum intermitente pode estar associado à compulsão alimentar

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Na Grécia Antiga, o jejum era uma prática empregada para purificar o corpo antes de cerimônias religiosas. Hoje, o jejum intermitente tornou-se uma estratégia popular para emagrecimento e melhoramento da saúde metabólica. Essa abordagem alimentar consiste em alternar períodos de jejum com tempos designados para alimentação, visando não apenas a redução calórica, mas também benefícios como a melhora na sensibilidade à insulina.

Apesar da crescente popularidade, ainda não há consenso científico sobre a superioridade do jejum intermitente em relação às dietas tradicionais equilibradas. Além disso, esta prática pode vir acompanhada de riscos. Segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo, o jejum intermitente pode aumentar a compulsão alimentar e o desejo por alimentos calóricos.

Quais são os riscos associados ao jejum intermitente?

O estudo da USP, publicado no Journal of the National Medical Association, analisou 458 estudantes universitários, dos quais 89 praticavam jejum intermitente. Os resultados demonstraram que 32 desses indivíduos apresentavam comportamentos de compulsão alimentar. Isso sugere que a prática do jejum pode estar associada a transtornos alimentares, o que levanta preocupações sobre sua segurança.

A investigação revelou que aqueles que jejuavam tinham maior propensão a experimentar impulsos por comida calórica, necessidade que pode resultar em episódios de compulsão. O autocontrole exigido para manter o jejum em estado de vigília pode atuar como um fator estressante, especialmente para jovens, que já são suscetíveis a distúrbios alimentares.

O que é compulsão alimentar?

A compulsão alimentar é um transtorno alimentar caracterizado por episódios recorrentes de consumo excessivo de alimentos, acompanhados por uma sensação de perda de controle. Durante esses episódios, a pessoa pode sentir que não consegue parar de comer, mesmo quando está satisfeita. Após o episódio de compulsão, podem surgir sentimentos de culpa, vergonha e angústia.

Sintomas:

  • Ingestão de grande quantidade de alimentos em um curto período de tempo.
  • Sensação de perda de controle durante os episódios de compulsão.
  • Comer mesmo quando não está com fome.
  • Comer escondido ou em segredo.
  • Sentimentos de culpa, vergonha ou depressão após os episódios de compulsão.

Causas:

As causas da compulsão alimentar são complexas e podem envolver fatores genéticos, psicológicos, sociais e biológicos. Alguns dos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno incluem:

  • Histórico familiar de transtornos alimentares.
  • Dietas restritivas ou tentativas de emagrecimento malsucedidas.
  • Estresse, ansiedade e depressão.
  • Problemas de autoestima e imagem corporal.
  • Traumas emocionais.

Tratamento:

A compulsão alimentar é um transtorno tratável e a maioria das pessoas que buscam ajuda consegue se recuperar. O tratamento geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, com a participação de profissionais como psicólogos, nutricionistas e, em alguns casos, psiquiatras. 

Foto: Mulher assustada comendo bolachas. Créditos: depositphotos.com / choreograph

Formas comuns de jejum intermitente

Existem diversas variações do jejum intermitente, cada uma com suas nuances. O jejum 16/8, por exemplo, implica 16 horas de jejum seguidas de uma janela de alimentação de oito horas. Outros adotam um ciclo de 12 horas de jejum para 12 horas de alimentação, enquanto alguns optam por um jejum de 24 horas, uma ou duas vezes por semana. Ainda que algumas pessoas relatem se sentir bem com o jejum, essa prática pode não ser sustentável a longo prazo para todos.

O endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que, embora o jejum possa resultar na perda de peso inicial, muitas pessoas têm dificuldade para manter essa perda de forma prolongada. Ele ressalta que a reeducação alimentar, sem restrições severas, é o método mais eficaz e seguro para o emagrecimento duradouro.

O jejum intermitente é adequado para todos?

A escolha do jejum intermitente como estratégia de emagrecimento deve ser cuidadosamente ponderada e, preferencialmente, orientada por um profissional de saúde. Isto é especialmente verdadeiro para indivíduos com condições como a obesidade, que requerem atenção médica contínua.

Sinais de que o jejum pode não estar sendo benéfico incluem monitoramento obsessivo do peso, isolamento social e rigidez emocional em relação à alimentação. A prática de qualquer método extremo de perda de peso requer equilíbrio e acompanhamento profissional para não comprometer a saúde psicológica e emocional do indivíduo.

Qual o conselho dos pesquisadores sobre essa prática?

Com a análise e as evidências trazidas pelo estudo da USP, destaca-se a importância de abordagens alimentares que promovam a saúde mental e emocional, além da física. Assim, para aqueles que desejam fazer o jejum intermitente, o aconselhamento médico e nutricional adequado é essencial para evitar os riscos associados à prática.